Orientações preliminares:
Os casos podem ser reais ou
fictícios. Os reais exigem muito cuidado na atribuição de declarações, que
devem ser devidamente documentadas. Casos fictícios dão mais liberdade ao
autor, mas isso não significa que possam abordar situações irreais. Ao
contrário, o caso posto como fictício deve, de fato, expressar situações já
vividas por servidores públicos no desempenho de suas funções.
Durante a escolha do tema, deve
ser bem delineado o problema, os atores envolvidos e onde se passa. Esse é o
eixo inicial para a construção da narrativa.
O caso é essencialmente um
instrumento pedagógico que deve servir para o aprendizado de como agir em
situações reais e de quais podem ser as consequências das ações.
Um caso não é um documento
histórico nem um texto puramente descritivo. Ele deve ser capaz de suscitar
questões para debate e ter elementos que permitam tomada de posição e definição
de cursos de ação.
Desenvolvimento
Uma vez definidos o tema e o foco
para o caso, que deve estar colado ao objetivo de aprendizagem do curso em que
será utilizado, deve-se partir para o trabalho bibliográfico e para a
realização de entrevistas, quando necessárias. A pesquisa bibliográfica auxilia
a entender melhor o tema a ser tratado e as abordagens teóricas sobre ele,
inclusive na definição de atores relevantes para a fase de entrevistas. Estas
servem para elucidar diferentes pontos de vista sobre o caso, reflexões e
detalhes da história do caso, bem como garantir a veracidade e a fidedignidade
das informações.
A escolha do entrevistado deve
levar em consideração o tipo de informação que se deseja obter. Muitas vezes,
dirigentes sabem muito menos do dia a dia das equipes do que um técnico mais
envolvido no processo.
Possíveis perguntas para as
entrevistas
•Perguntas de caráter descritivo,
do tipo “o que”, “quem”, “como” e “onde”. Principalmente o como será o foco das
entrevistas, que fornecerão informações para o relato e para o alinhamento
entre questões teóricas e o caso em questão. ◦Que contratempos surgiram/podem
surgir?
Quais são as áreas envolvidas?
Quem são as pessoas envolvidas?
◦Há conflitos?
Como acontece/aconteceu o
desenrolar do processo?
◦Quais são/foram os pontos
críticos?
Quais as facilidades?
◦Quais as dificuldades?
Exemplo:
•Perguntas de caráter
explicativo, do tipo “por quê”,
fornecerão subsídios para os objetivos da aprendizagem. ◦Por que a ação
foi iniciada?
Por que foi escolhido esse
desenho? ◾Nessa parte, a elaboração de perguntas depende de conhecimento prévio da situação em
questão e de dúvidas e informações que não tenham sido esclarecidas por meio da
descrição.
•Encerre indagando sobre quais
outras pessoas poderiam ser consultadas e se há algum material/documento que
possa ser acessado.
OBS.: Essa é uma orientação geral
sobre a organização de perguntas a serem feitas durante as entrevistas. O tipo
de pergunta dependerá do tema abordado e do conhecimento prévio de informações.
Escrevendo o caso
A redação do caso deve ser
elaborada de forma bastante neutra, apresentando fatos e circunstâncias
envolvidas. O caso é muito mais um relato contextualizado, pois toda a análise
deverá ser realizada pelos alunos. Abaixo uma estrutura possível a ser seguida
ao elaborar a narrativa principal do caso:
QUE ESTRUTURA UM CASO PODE
SEGUIR?
1.Introdução
Define o problema a ser examinado
e explica os parâmetros ou as limitações da situação; deve despertar interesse
e curiosidade.
2.Visão Geral/Análise Onde/quando/por
quê; fornece detalhes sobre atores envolvidos e organizações; identifica
questões profissionais, técnicas ou teóricas etc.; o caso deve ser rico em
nuances contextuais: cenários, personalidades, culturas, urgência das questões
etc.
3.Relato da Situação
Descreve as ações, pode incluir
declarações dos atores e suas relações; deve deixar claro o período temporal ou
a cronologia do caso; é importante saber onde os eventos importantes ocorrem,
com a identificação clara de locais e das instituições.
4.Problemas do caso
Geralmente um ou dois problemas
que requerem análise para resolver uma questão específica; devem ser
apresentados de forma clara; podem assumir três formas: a) apresentam uma
situação e perguntam aos alunos o que fariam a seguir; b) definem uma tarefa,
como, por exemplo, pedir aos alunos para elaborar relatório recomendando uma
ação; c) ilustram um cenário e pedem aos alunos que analisem as falhas e
recomendem como a situação deveria ser abordada.
*Estrutura válida tanto para
casos longos como para casos curtos, guardadas as proporções e a complexidade
de cada possibilidade
Análise qualitativa de casos –
Checklist
Quando escrevemos um estudo de
caso, nos deparamos com algumas dúvidas sobre a qualidade do trabalho. Será que
conseguimos alcançar o nosso objetivo? Será que o leitor/aluno se envolverá com
a narrativa? Para ajudar nessa análise, desenvolvemos um checklist que pode
auxiliar nessa construção. Não se trata de um rol exaustivo de aspectos que
precisam ser observados, nem se quer aqui dizer que, para que um caso seja bom,
ele tenha que responder de forma favorável todos os pontos. São apenas dicas
para se chegar a um caso mais bem escrito e adequado para aplicação em sala de
aula.
1.Há um desafio colocado? Os
problemas e dilemas da situação foram contextualizados? Um bom caso deve
desafiar os alunos a criar uma solução com uma ou mais decisões tomadas; os
problemas não devem ter resposta certa ou óbvia. Um bom caso deve provocar os
alunos a pensar sob várias perspectivas.
2.Que teorias ou conceitos
pretendem ser ensinados por meio do caso?
3.Os elementos políticos que
influenciaram na situação foram explicitados?
4.O caso se prestaria a uma
abordagem de ensino e aprendizagem interessante (ex.: encenações, simulações)?
Quais?
5.Para quais cursos ou outras
abordagens o caso poderia ser utilizado?
6.O caso deve ser tão breve
quanto possível. Um bom caso deve fornecer informações suficientes para que os
alunos possam analisar, de maneira eficaz e eficiente, os fatos relevantes. O
caso tem informações suficientes para uma boa análise?
7.O caso não deve produzir
qualquer diagnóstico ou prognóstico. Não há resposta certa, solução única.
8.Um bom caso deve promover
habilidades tanto de análise como de síntese. O caso deve ser orientado para
decisões e movido para a ação. Os alunos são motivados quando têm que converter
análise em ação.
9.Quais foram as fontes
utilizadas? Elas foram múltiplas? Houve entrevistas? Informantes-chave?
10.O caso identifica o ator ou
atores que influenciaram nas ações, devem resolver o problema e/ou devem tomar
as decisões? O leitor poderá se ver no papel do tomador de decisões ou em
outros papéis?
11.Existe tensão dinâmica
suficiente no caso para produzir pontos de vista controversos e competitivos?
12.O caso é atraente (contém um
insight surpreendente; prazos fatais, conflitos, oportunidades e ameaças atraem
o leitor rapidamente para o caso)?
13.Um caso, especialmente aquele
documente situações reais, não deve ser visto simplesmente como autopromoção da
parte do autor ou da organização patrocinadora.
14.O caso possui uma nota
pedagógica? Ela está bem estruturada?
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